terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Feliz 2011!!!

Querido leitor (a):

Para você ganhar um belo Ano Novo
não precisa fazer listas de boas intenções para esquecê-las na gaveta.

Não precisa chorar de arrependimento
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar que por decreto da esperança
a partir de Janeiro as coisas mudem e tudo se transforme em claridade,
recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão fresco, e direitos plenamente respeitados, começando pelo direito sublime à vida.

Para ganhar um ano-novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem que merecê-lo, tem de fazê-lo novo.

Não é fácil mas tente, experimente, invente, surpreenda! Não esmoreça!

Porque é dentro de você que o Ano Novo repousa e espera desde sempre.



Muito obrigada por sua atenção e confiança durante esses anos e...


Um 2011 maravilhoso para você!


Um abraço carinhoso!


Arnete de Almeida Faria
Fonoaudióloga
CRFa 13.622/RJ





Dr. Paulo Mattos e o TDAH - De frente com Gabi - 05/09/10




O médico psiquiatra Paulo Mattos é um pesquisador sério e tem um denso currículo. Em síntese, ele é doutor em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), professor adjunto de Psiquiatria do Departamento de Psiquiatria da UFRJ, coordenador do Grupo de Estudos do Déficit de Atenção-GEDA-IPUB/UFRJ e presidente do Conselho Científico da ABDA (Associação Brasileira de Déficit de Atenção).
Sou leitora assídua de seus artigos e acompanho seu trabalho com o TDAH há quase 10 anos. Nessa primeira parte da entrevista com a jornalista Marília Gabriela, em seu programa no SBT, o dr. Paulo Mattos explica de forma muito clara em que consiste o TDAH. Vale a pena assistir à entrevista. 


Arnete de Almeida Faria
Fonoaudióloga
CRFa 13.622/RJ



segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Projeto de lei dispõe sobre o diagnóstico e tratamento do TDAH e dislexia na educação básica

Quando iniciei minha graduação em Fonoaudiologia eu tinha um propósito muito claro resultante de minha convivência com o TDAH: possibilitar um diálogo entre o transtorno e a Fonoaudiologia.
Na realidade, de uma perspectiva empírica eu inferia que além do médico, psicólogo e psicopedagogo, a presença do fonoaudiólogo era muito importante e não podia se restringir aos casos em que havia a dislexia associada. Eu observava em muitos casos algumas alterações na comunicação e na linguagem, sobretudo na conversação, desses indivíduos. Foi justamente a partir dessa percepção que desenvolvi minha monografia da graduação. 
Assim sendo, reproduzo abaixo, com satisfação, informações importantes publicadas no Boletim no. 33, 27/12/2010, do Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa), sobre a atenção que o TDAH vem demandando legalmente e, em especial, o reconhecimento da importância do fonoaudiólogo na equipe interdisciplinar no diagnóstico e tratamento do TDAH:

Dislexia e TDAH avançam na Câmara

O Projeto de Lei 7.081/2010, que trata da prevenção, diagnóstico e tratamento da Dislexia e do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), foi aprovado na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados no dia 15 de dezembro. A aprovação foi feita na forma do substitutivo da relatora, deputada Rita Camata (PSDB-ES), com avanços no sentido da interpretação da Fonoaudiologia.
A sessão plenária contou com pedido de vista do texto pelo deputado Dr. Paulo César (PR-RJ). No entanto,  a pós a fala da relatora e manifestações de apoio aos deputados Alceni Guerra (DEM-PR), Darciso Perondi (PMDB-RS), Omar Terra (PMDB-RS), Elcione Barbalho (PMDB-PA) e Geraldo resende (PMDB-MS), o pedido de vistas foi retirado e o substitutivo foi aprovado por unanimidade por todos os parlamentares presentes. Agora o PL segue para a Comissão de Tributação e Finanças onde deve ser novamente apreciado.

Outro aspecto importante no Projeto de Lei é sobre a importância da capacitação dos professores da educação básica sobre o TDAH e a dislexia. Como tenho afirmado, o professor é o nosso maior aliado na prevenção, no diagnóstico e intervenção precoces, pois é ele quem observa alterações e busca discernir o que pertence ao âmbito do pedagógico e o que pertence ao âmbito da saúde. No relatório do PL 7081 estabelece que:

"O Projeto de Lei no. 7-081, de 2010, de autoria do Senador Gerson Camata, propõe que o poder público mantenha programa de diagnóstico e tratamento de estudantes da educação básica com dislexia e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), por meio de equipe multidisciplinar composta, entre outros, por educadores, psicólogos, psicopedagogos, médicos e fonoaudiólogos.
A proposição estabelece que as escolas de educação básica devem assegurar às crianças e aos adolescentes com dislexia e TDAH o acesso aos recursos didáticos adequados ao desenvolvimento de sua aprendizagem e também indica que os sistemas de ensino devem garantir aos professores da educação básica cursos sobre o diagnóstico e o tratamento da dislexia e do TDAH. Finalmente, o projeto menciona que a lei deverá entrar em vigor em 1o. de janeiro do ano subsequente ao de sua publicação."


O PL no. 7081, de 2010 e o substitutivo a esse PL podem ser lidos na íntegra no seguinte endereço:
http://www.camara.gov.br/sileg/integras/817148.pdf

Eu gostaria de ressaltar que no substitutivo ao PL no. 7081 o Congresso Nacional decreta:

Art. 1o. O poder público deve manter programa de identificação precoce, diagnóstico, tratamento e atendimento educacional escolar especializado para estudantes da educação básica com dislexia e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
Art. 2o. A identificação precoce, o diagnóstico, o tratamento e o atendimento educacional escolar especializado de que trata o art. 1o. devem ocorrer por meio de equipe multidisciplinar, da qual participarão, entre outros, educadores, psicólogos, médicos, fonoaudiólogos e especialistas em psicopedagogia.





Arnete de Almeida Faria
Fonoaudióloga
CRFa 13.622/RJ

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O TDAH pode ser uma invenção dos laboratórios farmacêuticos?


Em vários lugares e eventos ouvi alguns leigos e profissionais afirmarem que o TDAH “é uma doença inventada pelos laboratórios farmacêuticos”, possivelmente porque muitos médicos que estudam o transtorno recebem apoio da indústria farmacêutica. Considerando a gravidade dessa afirmativa, destaco as ideias principais e alguns trechos da carta de esclarecimento sobre o assunto redigida pelos psiquiatras Dr. Paulo Mattos, Presidente do Conselho Científico da Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), e Luiz Augusto Rohde, Vice-presidente do Conselho Científico da ABDA. 
A carta pode ser lida em sua íntegra no site da associação: http://www.tdah.org.br/carta_tdah2.pdf

1) O que hoje denominamos de TDAH é descrito por médicos desde o século XVIII (Alexander Crichton, em 1798), muito antes de existir qualquer tratamento medicamentoso. No inicio do século XX, o Dr. George Still publicou um artigo científico numa das mais respeitadas revistas médicas até hoje, The Lancet. A descrição de Still é quase idêntica a dos modernos manuais de diagnóstico, como o DSM-IV da Associação Americana de Psiquiatria. Isso significa que o TDAH não é uma “mera conseqüência da vida moderna”.

2) Os sintomas que compõem o TDAH são observados nas mais diversas culturas. Se fosse simplesmente  um  comportamento secundário ao modo como as crianças são educadas, ou ao seu meio sociocultural, não seria possível que a descrição fosse  praticamente a mesma em locais tão diferentes.

3) Se o TDAH não fosse um transtorno mental, mas somente “um jeito diferente de ser”, como poderia ser explicado que os portadores, segundo os dados de pesquisas científicas, têm maior taxa de abandono escolar, reprovação, desemprego, divórcio e acidentes automobilísticos, e maior incidência de depressão, ansiedade e dependência de drogas?

4) Se o TDAH fosse “uma invenção da indústria farmacêutica”, poderíamos esperar que a Organização Mundial de Saúde – órgão internacional máximo nas questões relativas à saúde pública sem qualquer vinculação com a indústria farmacêutica  – listaria o transtorno como parte dos diagnósticos da Classificação Internacional das Doenças não só na sua última versão (CID-10) como nas anteriores (CID-8 e CID-9)? Vide o site http://www.datasus.gov.br/cid10/v2008/cid10.htm

5) Se o TDAH fosse secundário ao modo como os pais educam seus filhos, por que motivo as famílias biológicas de crianças com TDAH que foram adotadas têm prevalências (taxas) de TDAH bem maiores do que aquelas encontradas nas suas famílias adotivas? A única explicação possível é que seja um transtorno com forte participação genética.

6) Mais de 200 artigos científicos já foram publicados demonstrando alterações no funcionamento cerebral de portadores de TDAH. Os achados mais recentes e contundentes são oriundos de centros de pesquisa como o National Institute of Mental Health dos EUA impossibilitados de qualquer contato com a indústria farmacêutica.  O fato de não termos uma alteração cerebral que seja “marca registrada” do TDAH não invalida nem a sua base neurobiológica, muito menos a sua existência. Se fosse assim, não existiria a Esquizofrenia,  o Autismo, a Depressão, o Transtorno de Humor Bipolar entre outros, já que nenhum desses
têm uma alteração que seja “marca registrada” da doença. 

Em todos os âmbitos da nossa vida, todas as informações que nos chegam devem ser sempre pesquisadas e refletidas com muito cuidado. Hoje em dia, os meios de divulgação de informações são abrangentes e democráticos, porém poucos divulgadores se preocupam em comprovar a veracidade das informações que transmitem. Com isso, o leitor fica suscetível ao erro de opinião e acaba se transformando em um multiplicador de ideias equivocadas. 

Neste caso, os médicos Mattos e Rohde nos orientam a acessar fontes realmente seguras e científicas sobre o TDAH (por exemplo: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed) antes de formarmos uma opinião sobre o assunto:  "No nosso caso, a evidência científica é implacável: o TDAH é um dos transtornos mais bem estudados da medicina e com mais evidências científicas que a maioria dos demais transtornos mentais." 

Arnete de Almeida Faria



quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O TDAH AO LONGO DA VIDA

       Tenho falado sobre os sinais e as implicações do TDAH na infância. Porém, uma criança com TDAH será um adulto com TDAH! A diferença em uma ou na outra faixa etária ficará na adequada avaliação diagnóstica e na intervenção eficaz. É claro que como mãe de crianças com TDAH acabei identificando em mim vários dos sinais do transtorno. Tudo começou com o diagnóstico delas. Inicialmente, senti muito claro que nada daquilo estava relacionado a mim, apesar do médico me afirmar sobre o caráter genético hereditário do TDAH. Comecei a procurar em pais e avós os sinais que os responsabilizassem pela transmissão. 
       Aos poucos, na terapia de orientação a pais, fui descobrindo que eu tinha muitas das dificuldades das minhas filhas e, por isso, não conseguia realizar as tarefas propostas pela psicóloga quanto a mudança do comportamento delas. Claro! É muito mais fácil ver as dificuldades dos outros do que as próprias. A situação se agravou quando percebi que o meu comportamento dificultava a terapia que fazíamos para beneficiá-las. Pensei: "Assim como elas, sou muito desatenta e me consumo com meus próprios pensamentos, procrastino as tarefas, sempre flutuo entre a impulsividade e a passividade, tenho dificuldade de tomar iniciativas, de estabelecer prioridades, de me organizar para o trabalho e não interrompê-lo. A baixa tolerância à frustração  me impede de me lançar em algo com medo de não dar certo. Tenho muita energia e ideias brilhantes que da mesma forma que surgem, desaparecem deixando uma sensação amarga de decepção." Lembrei-me que, quando criança, eu agia exatamente como elas e por isso sofria demais, pois meus pais e professores não tinham noção do que acontecia comigo. A terapia era a dos castigos intensos...
        A partir desse momento de autodescoberta e de mapeamento dos meus prejuízos funcionais, decidi que para ajudá-las eu precisaria me ajudar. Para que a psicoterapia tivesse um bom resultado, eu precisaria inicialmente ser a função executiva das minhas filhas, pois era necessário que elas conhecessem nelas os sinais  e as consequencias do TDAH para, então, aprenderem a controlar o comportamento a partir de instruções dos adultos de modo que, gradativamente, novos padrões fossem internalizados.
        O passo seguinte foi buscar o meu diagnóstico e os procedimentos terapêuticos adequados. Só não foi mais difícil porque em função das minhas dificuldades de lidar com minhas filhas desde o nascimento, iniciei um tratamento de psicanálise que me ajudou a entender alguns dos meus movimentos e sentimentos. Mas assim como meus pais e professores, a psicanalista não entendia meu comportamento e o justificava com as seguintes expressões: -É da ordem do desejo, ou, - Você se boicota.  
É, foi duro mas me fortaleceu e me ajudou a não ter tanto medo dos meus limites. E ali estava eu: tão prejudicada pelo TDAH quanto minhas filhas. E agora? 
        Na orientação a pais, a psicoterapeuta sempre dizia: "Mudança de comportamento é algo muito difícil de realizar". Essa afirmativa me caiu como um desafio: difícil mas não impossível. Descobri nesse movimento que eu era uma pessoa resiliente. Resolvi ler, estudar, fazer cursos e participar de eventos sobre o assunto. Acreditei que conhecimentos sólidos seriam meus aliados nessa luta, por isso abracei uma nova profissão, a Fonoaudiologia. 
       Quanto a nós? Bem, continuamos muito atentas e monitorando nosso comportamento diariamente.


Arnete de Almeida Faria
Fonoaudióloga
CRFa 13.622-RJ

quinta-feira, 8 de julho de 2010

TDAH e competência comunicativa

        Na minha experiência com os portadores de TDAH, sempre me intrigou o modo como esses sujeitos conversavam no cotidiano. Eu observava uma certa confusão e ficava com a sensação de que muito da conversa havia se perdido. Em vários momento, os participantes falavam ao mesmo tempo, mudavam de assunto sem avisar, faziam pausas por um tempo muito longo como se estivessem desinteressados do assunto. Em suma, parecia que a conversa dificilmente era bem sucedida.
         Fiquei curiosa com essas observações, pois hoje em dia saber conversar é fundamental na vida das pessoas. Saber o quê, como, onde, quando e com quem conversar pode definir um perfil acadêmico, social e profissional! Como dizia o velho guerreiro Chacrinha: "Quem não se comunica, se trumbica!"
        Como poderá ser o futuro profissional de um repórter que sempre se distrai enquanto o entrevistador responde à pergunta, ou por impulsividade frequentemente faz outra pergunta antes de ouvir a resposta completa? Como poderá ser o futuro de um psicólogo que constantemente fala em demasia, e interrompe e se intromete na fala dos pacientes?
      Essas perguntas que rondaram meus pensamentos durante alguns anos me levaram a questionar se a competência comunicativa pode estar prejudicada nos portadores de TDAH. Caso afirmativo, por quê? E o onde se insere, nesse caso, a Fonoaudiologia, ciência que tem como objeto de estudo as alterações e patologias que acometem a comunicação humana?

     A partir dessas indagações, iniciei minha pesquisa teórica sobre o assunto para a minha monografia de conclusão do curso de graduação em Fonoaudiologia. Ontem, defendi minha monografia com sucesso e indicação para realizar a pesquisa de campo. Com isso, espero contribuir com novos achados sobre o TDAH.  


        Arnete de Almeida Faria 

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Mudanças no TDAH no decorrer do desenvolvimento

               Um dos aspectos mais inquietantes do TDAH para os pais é que ele evolui com o crescimento da criança. O que funcionou aos 6 anos pode não funcionar aos 16 anos. Até 80% das crianças em idade escolar com diagnóstico de TDAH continuarão a ter o transtorno na adolescência e, entre 30 a 65% continuarão a apresentá-la na vida adulta, dependendo de como o transtorno é definido em cada caso particular. Os pais percebem o problema quando a criança tem três ou quatro anos de idade, às vezes antes disso. Algumas crianças com TDAH, entretanto, podem ser difíceis de serem cuidadas por serem muito ativas, irritáveis e temperamentais desde o início da infância. Outras podem não ter demonstrado essas dificuldades até ingressar na pré-escola ou mesmo no ensino fundamental. No último caso, a criança, provavelmente, apresentou algumas características do transtorno anteriormente, mas não demonstrou problemas que interferissem na realização das tarefas de desenvolvimento relativamente simples.
             Crianças com TDAH não são todas iguais. Algumas exibem padrões diferentes de comportamento, desenvolvimento e risco tardios. Algumas apresentarão apenas o TDAH; outras terão esse transtorno aliado a problemas de aprendizagem, agressividade, conduta anti-social e péssima relação com os amigos. Todas compartilham o problema da habilidade reduzida de inibir seu comportamento e de manter esforços para sustentar atividades. E, com certeza, todas as crianças necessitam de nossos cuidados, apoio, orientação, educação e amor, embora possam ser um desafio para serem criadas.

(Texto do Dr. Russel A. Barkley no livro Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH): guia completo para pais, professores e profissionais de saúde)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Você é uma pessoa resiliente?


Após receber o diagnóstico de TDAH para minhas filhas, foi iniciada a terapia interdisciplinar: acompanhamento médico e terapia psicológica na linha da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) para as meninas, e orientação a pais e à escola, feita pela psicóloga. Durante o processo terapêutico, deparei-me com várias questões difíceis, entre elas a dificuldade de lidar com a frustração e com as adversidades.
Eu andava com aquela nuvenzinha preta em cima da minha cabeça, meio pessimista, tomada por pensamentos invasivos, com pouca fé no futuro, me sentindo muito triste e sozinha.
Nesse momento, fui apresentada à Resiliência, termo muito utilizado na Física e na Engenharia, porém adotado pela Psicologia, Educação, Sociologia.
       
No dicionário do Houaiss, resiliência é definida como:
- propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica;
- capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças.

Tomado pela Psicologia para substituir os termos invencibilidade e invulnerabilidade utilizados até então, a resiliência passou a ser definida como:
- a capacidade do ser humano para lidar com as adversidades da vida, superá-las e ser transformado por elas;
- conjunto de processos sociais e intrapsíquicos que possibilitam ter uma vida sadia num ambiente adverso.

A resiliência é uma imunidade psicológica, pode ser inata ou desenvolvida no ser humano e varia de acordo com as circunstâncias, dessa forma, a resiliência deve ser fomentada e promovida, caso contrário, diante de fatores de risco, o indivíduo pode desenvolver uma psicopatologia.

Os fatores de risco, entendidos como qualquer característica ou qualidade da pessoa que vem unido a uma elevada probabilidade de prejuízo à saúde, devem ser combatidos pelos fatores protetores (competência social, temperamento fácil, inteligência, autonomia, auto-estima etc) que atuam como escudo e favorece um indivíduo a reduzir efeitos ou circunstâncias desfavoráveis.

Certas características da pessoa possuem uma associação positiva com a possibilidade de enfrentar fatores de risco e de aproveitar os fatores protetores, sendo assim resiliente. Algumas dessas características são precoces na criança, tais como: autonomia, comunicação fácil, empatia, competência cognitiva e em resolver problemas, controle de impulsos, capacidade de atenção e concentração. Devemos lembrar que as últimas 3 características são, em geral, disfuncionais nos portadores de TDAH, fazendo-se necessário que essas pessoas aprendam a desenvolver a resiliência, pois se as demais qualidades forem corretamente articuladas essas pessoas poderão usufruir dos benefícios resiliência. 
A resiliência está diretamente relacionada com o vínculo afetivo de cada dinâmica familiar ou social, composta por pessoas que nos fazem sentir queridas, úteis e importantes. Segundo GROTBERG (1995), os atributos considerados como fontes de resiliência podem ser verbalizados em 4 condições:

1) EU TENHO: 
-pessoas ao meu redor nas quais eu confio;
-pessoas que me mostram o que é certo e me ensinam a fazer coisas para que eu tenha autonomia;
- pessoas que me ajudam quando necessito.

2) EU SOU:
- uma pessoa amada e querida pelos outros;
- uma pessoa capaz de fazer o bem;
- uma pessoa responsável e respeitada;
- uma pessoa que confia que as coisas vão dar certo.

3) EU ESTOU:
- certo de que tudo vai sair bem;
- rodeado de amigos e colegas que me apreciam;
- disposto a me responsabilizar pelos meus atos;
- triste, mas com a certeza de encontrar apoio.

4) EU POSSO:
- contar para os outros sobre assuntos e dificuldades que não entendo e me assustam;
- encontrar caminhos para resolver os problemas que surgem;
- me controlar e esperar o momento certo de falar e/ou agir;
- encontrar alguém que me ajude quando eu preciso.

A pessoa resiliente tem forte senso de identidade, auto-estima positiva, independência, autocontrole, confiança no futuro, capacidade de comunicação e de demonstrar habilidades sociais. É uma pessoa otimista, persistente e esforçada, capaz de pensar de forma crítica e descobrir soluções para os problemas que se apresentam, procurando adaptação porque é flexível e quando as experiências são muito negativas, se engaja numa distância adaptativa da situação para buscar ajuda.

A resiliência é contingente, imprevisível e, sobretudo, dinâmica. Na nossa convivência familiar, nesse processo de descobrir e aprender a lidar com o TDAH, vimos aprendendo a ser pessoas resilientes, flexíveis como o bambu que enverga mas não quebra!!

E você? É uma pessoa resiliente?
Pense nisso!

Arnete de Almeida Faria   

  

domingo, 7 de março de 2010

Gerência de desempenho escolar

Os sintomas do TDAH podem se manifestar desde o berço com sono agitado, choro fácil, intensa atividade motora, excessiva irritação, porém, é na escola que alguns sintomas são evidenciados e podem levar pais e professores a considerá-los dentro do padrão de normalidade. Por volta dos seis e sete anos de idade, época de alfabetização, os sintomas se agravam em razão de atividades que exigem mais atenção por um período longo e einibição do comportamento inadequado. 
A partir do segundo ano do ensino fundamental, o conteúdo programático se faz mais aprofundado e passam a ser avaliados o desempenho em deveres de casa e provas que exigem domínio da memorização, flexibilidade em resolução de problemas e maior atenção a detalhes.
Antes de qualquer procedimento, pais e professores devem se informar sobre o transtorno, ter consciência dos próprios limites, buscar apoio mútuo e, principalmente, ouvir a criança, estabelecer empatia com ela, incentivar e valorizar seus talentos.
Crianças portadoras de TDAH têm problemas de criar motivação interna para permanecer em tarefas que consideram trabalhosas, demoradas e chatas. Pais e professores podem ajudá-las dando um empurrão na motivação externa. Assim, seguem algumas sugestões de Hallowell para o gerenciamento do desempenho escolar para ajudar a criança a:

(a) criar uma estrutura interna com auxílio de agendas, blocos de anotações, listas, lembretes, arquivos para marcar compromissos e prazos;
(b) organizar o ambiente de estudo para sentir-se organizado, evitando o acúmulo de papéis e materiais sobre a mesa, pois a sensação de organização externa ajuda a criar uma organização interna;
(c) prevenir frustrações lembrando que na vida há perdas e ganhos, acertos e erros;
(d) aceitar desafios com a condição de não ser excessivamente perfeccionista ou meticuloso, evitando que a criança abandone a tarefa iniciada;
(e) subdividir as tarefas grandes em menores, determinando prazos para realização de cada etapa. É comum a criança sentir medo e desânimo diante de uma tarefa grande ou com muitas etapas;
(f) priorizar e não acumular tarefas para não perder a noção de tempo. O adiamento é uma das marcas principais de pessoas com TDAH porque elas lidam mal com a administração do tempo e costumam perder os prazos;
(g) descobrir em que ambiente a criança funciona melhor e consegue manter um nível de atenção. Algumas crianças preferem fazer os deveres de casa na sala, ouvindo música porque assim conseguem abstrair os demais ruídos enquanto outras preferem o silèncio absoluto;
(h) não complicar nem acumular tarefas só para sentir-se estimulada. Iniciar nova taefa apenas quando tiver terminado as anteriores, porém, algumas crianças se saem melhor realizando duas tarefas ao mesmo tempo;
(i) descobrir o que a criança sabe fazer bem (pontos fortes), sem preconceitos;
(j) ensinar a separar um tempo para organizar os próprios pensamentos, pois transições são difíceis de serem aceitas e pequenos intervalos podem ajudar;
(K) aprender a elaborar roteiros de estudo e usar marca textos ou lápis coloridos na leitura para manter a atenção e destacar as informações mais importantes;
(l) estimular a prática de exercícios físicos, neste caso o professor é um excelente aliado.

A criança com TDAH é mais sensível a recompensa imediata e reforço positivo do que as demais crianças, portanto é recomensável incentivá-la e elogiá-la sempre que conseguir iniciar e terminar uma tarefa. Para tanto, valem recompensas como tempo extra de brincadeira ou de TV, um passeio, um presente, pontos para um benefício posterior, tempo extra com os pais etc.
A prática de atendimento dessas crianças mostra que o encaminhamento clínico leva pais e escola a acreditar erroneamente que o TDAH por si só justifica os problemas familiares, sociais e de desempenho escolar, culpando a criança pelo fracasso. No entanto, a abertura para discutir e modificar os hábitos familiares e escolares indica que as dificuldades não estão verdadeiramente na criança. A partir da disponibilidade de mudar em favor do desenvolvimento global da criança, devemos ajudá-la a entender suas dificuldades para que se sinta mais confortável com a própria diferença, aceitando e colaborando com a necessidade de modificar sua atuação. 

REFERÊNCIAS:
BARKLEY, Russel. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. Porto Alegre: Artmed, 2000.
HALLOWELL, Edward M. Tendência à distração: identificação e gerência do distúrbio do déficit de atenção da infância à vida adulta. Porto Alegre: Artmed, 1999.        
   




quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O PRIMEIRO DIAGNÓSTICO A GENTE NUNCA ESQUECE...

O primeiro contato com o termo TDAH é geralmente difícil e indica alguma falta de cuidado e preparo tanto da parte de quem fala quanto da de quem ouve. É sempre um grande susto!
Comigo não foi diferente em 2001...
Eu não estava satisfeita com o processo de alfabetização das minhas filhas em uma escola de linha natural e construtivista. Apesar de a metodologia ser muito bem utilizada, as professoras e eu não conseguíamos ver qualquer avanço e as meninas continuavam sendo prejudicadas pela agitação e a dispersão, que até então era entendida como característica da idade entre 6 e 7 anos. Porém, preocupava-me a passagem para a 1a. série naquelas condições.
Como possibilidade de solução, visitei uma escola tradicional muito bem conceituada na cidade do Rio de Janeiro. A primeira visita foi formal, a coordenadora do ensino fundamental me mostrou o espaço físico, conversou sobre horários, uniforme e preços e no final me perguntou por que eu queria mudar minhas filhas de escola. Contei-lhe que as meninas eram muito agitadas e que me preocupava o baixo rendimento delas, pois como educadora valorizo uma boa alfabetização.
A princípio não haveria nenhum problema para matriculá-las e seria interessante que elas conhecessem a escola. Marcamos outra visita na semana seguinte. Chegado o dia, fomos levados pela coordenadora a uma sala cheia de brinquedos, livros, papéis para desenhar. Naquele paraíso minhas filhas quase viraram a sala de cabeça para baixo. Elas haviam mexido em tudo o que encontraram pela frente, apesar dos meus duros olhares e advertências. 
Depois de observar atentamente o comportamento das meninas, a coordenadora me disse claramente que elas não poderiam ficar na escola por causa do comportamento muito inadequado. Mais uma vez sofríamos esse tipo de preconceito e o que fazer nesse caso? Invocar nossos direitos? Forçar uma aceitação? Penso que o que quer que façamos precisa ser muito bem avaliado.
Ao perceber minha indignação ela me disse que havia acabado de assistir a um evento sobre educação e saúde. Lá ela havia conhecido um médico neuropsiquiatra, dr. Fábio Barbirato, que tinha falado sobre o DDA (Déficit de Atenção, nomenclatura utilizada na época). Se eu estivesse interessada em tirar dúvidas deveria procurá-lo na Santa Casa de Misericórdia. Saí dali tonta. Eu simplesmente não sabia o que pensar. Neuropsiquiatria????
Levei dias até pegar o telefone para procurar o dr. Fábio e como a Santa Casa estava em recesso, decidi vê-lo o mais rápido possível em seu consultório. 
A primeira consulta sempre é embaraçosa, os pais querem contar toda a história da criança, mas a ansiedade atrapalha. Por causa da angústia a fala se parece um quebra-cabeça e o médico tem que montar a história.
O jovem dr. Fábio, muito empático, estava acostumado a ouvir relatos  semelhantes e nos fez perguntas específicas em sua avaliação clínica. Em seguida, ele encaminhou minhas filhas para uma avaliação neuropsicológica e nos entregou os questionários para pais e para a escola. 
Na consulta seguinte, com a avaliação e os questionários em mãos ele definiu o diagnóstico. Era hora de começarmos o tratamento eficaz e eu, mãe ansiosa, precisava de mais informações sobre o transtorno. Sensível à minha necessidade, o dr. Fábio me ofereceu vários textos sobre o assunto para que eu os estudasse e participasse ativamente do processo, possibilitando que eu me transformasse em "co-terapeuta" das minhas meninas. 


Arnete de Almeida Faria           

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O Processo Diagnóstico do TDAH em crianças



Diagnosticar uma criança como portadora de TDAH não é tarefa fácil, pois o diagnóstico é fundamentalmente clínico. Além do número de sintomas apresentados por mais de seis meses, o clínico deve considerar a história de vida da criança e o comprometimento resultante de tais sintomas.
Em geral, o diagnóstico deve ser realizado por médico em equipe interdisciplinar composta por psiquiatra/neuropsiquiatra/, pediatra, psicólogo, pedagogo, psicopedagogo em minuciosa avaliação clínica que inclui relatórios constando observações de pais, cuidadores e professores sobre o comportamento da criança.  
A desatenção, a hiperatividade e a impulsividade como sintomas isolados podem ser decorrentes de vários problemas como por exemplo dificuldade na relação com os pais, colegas e amigos; sistemas educacionais inadequados; alterações sensoriais e também podem estar associados a outros transtornos comuns na infância e na adolescência. 
O Manual de Estatística e Diagnóstico (atualmente DSM-IV), publicado pela Associação Americana de Psiquiatria, é um sistema classificatório largamente usado porque descreve o TDAH segundo três tipos, cada qual com uma predominância de um ou outro padrão. São eles: tipo predominante desatento, tipo predominantemente hiperativo/impulsivo e tipo combinado.
No tipo desatento, popularmente conhecido como aquele que vive "no mundo da lua", observa-se com frequência a falta de atenção a detalhes e a criança sempre comete erros por descuido; dificuldade para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas distraindo-se com qualquer estímulo; parece não escutar quando lhe dirigem a palavra como se não ouvissem bem; dificuldade de organizar atividades, seguir instruções e terminar deveres e tarefas; recusa de envolver-se em tarefas que exigem esforço mental constante; costuma perder objetos e brinquedos e, principal queixa de pais e professores, parece esquecer de tudo o que escutou alguns minutos depois de receber a informação. 
No tipo predominantemente hiperativo/impulsivo, conhecido como aquele que tem um "bicho carpinteiro", observa-se com frequência agitação de pés e mãos, movimentação constante na cadeira e dificuldade de permanecer sentado por mais de uns minutos; corre e escala tudo o que vê pela frente; fala demais e muito rápido; tem dificuldade para brincar ou se concentrar em atividades; não aguarda a vez na fila e nem na conversa, intrometendo-se assim nos assuntos alheios.
O tipo combinado, como o próprio nome indica, é uma combinação dos sintomas dos dois tipos anteriores.
Em qualquer dos casos, esses indivíduos apresentam dificuldades para se organizarem e planejarem suas atividades e tarefas, causando a impressão de que seu desempenho está sempre abaixo do esperado para sua inteligência.
Para cada tipo ressaltam-se comprometimentos específicos. Os do tipo desatento são mais retraídos e possuem maior prejuízo escolar; os hiperativos/impulsivos tendem a ser mais agressivos e com isso geram impopularidade e rejeição pelos colegas; os do tipo combinado apresentam maior comprometimento no funcionamento global.
Os sintomas do TDAH podem se manifestar desde o berço com sono agitado, choro fácil, intensa atividade motora, excessiva irritação em qualquer ambiente, causando assim preocupação dos pais e prejuízo significativo no desenvolvimento da criança. 
É importante ressaltar que sempre haverá algum grau de desatenção, hiperatividade e impulsividade em todo portador de TDAH.
O TDAH pode causar no indivíduo um impacto na funcionalidade do planejamento: os sintomas atrapalham o desempenho de atividades resultando em desvantagens educacional e profissional, o que causará prejuízos importantes na vida da pessoa.
 

http://www.tdah.org.br/quadro01.php