quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O TDAH pode ser uma invenção dos laboratórios farmacêuticos?


Em vários lugares e eventos ouvi alguns leigos e profissionais afirmarem que o TDAH “é uma doença inventada pelos laboratórios farmacêuticos”, possivelmente porque muitos médicos que estudam o transtorno recebem apoio da indústria farmacêutica. Considerando a gravidade dessa afirmativa, destaco as ideias principais e alguns trechos da carta de esclarecimento sobre o assunto redigida pelos psiquiatras Dr. Paulo Mattos, Presidente do Conselho Científico da Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), e Luiz Augusto Rohde, Vice-presidente do Conselho Científico da ABDA. 
A carta pode ser lida em sua íntegra no site da associação: http://www.tdah.org.br/carta_tdah2.pdf

1) O que hoje denominamos de TDAH é descrito por médicos desde o século XVIII (Alexander Crichton, em 1798), muito antes de existir qualquer tratamento medicamentoso. No inicio do século XX, o Dr. George Still publicou um artigo científico numa das mais respeitadas revistas médicas até hoje, The Lancet. A descrição de Still é quase idêntica a dos modernos manuais de diagnóstico, como o DSM-IV da Associação Americana de Psiquiatria. Isso significa que o TDAH não é uma “mera conseqüência da vida moderna”.

2) Os sintomas que compõem o TDAH são observados nas mais diversas culturas. Se fosse simplesmente  um  comportamento secundário ao modo como as crianças são educadas, ou ao seu meio sociocultural, não seria possível que a descrição fosse  praticamente a mesma em locais tão diferentes.

3) Se o TDAH não fosse um transtorno mental, mas somente “um jeito diferente de ser”, como poderia ser explicado que os portadores, segundo os dados de pesquisas científicas, têm maior taxa de abandono escolar, reprovação, desemprego, divórcio e acidentes automobilísticos, e maior incidência de depressão, ansiedade e dependência de drogas?

4) Se o TDAH fosse “uma invenção da indústria farmacêutica”, poderíamos esperar que a Organização Mundial de Saúde – órgão internacional máximo nas questões relativas à saúde pública sem qualquer vinculação com a indústria farmacêutica  – listaria o transtorno como parte dos diagnósticos da Classificação Internacional das Doenças não só na sua última versão (CID-10) como nas anteriores (CID-8 e CID-9)? Vide o site http://www.datasus.gov.br/cid10/v2008/cid10.htm

5) Se o TDAH fosse secundário ao modo como os pais educam seus filhos, por que motivo as famílias biológicas de crianças com TDAH que foram adotadas têm prevalências (taxas) de TDAH bem maiores do que aquelas encontradas nas suas famílias adotivas? A única explicação possível é que seja um transtorno com forte participação genética.

6) Mais de 200 artigos científicos já foram publicados demonstrando alterações no funcionamento cerebral de portadores de TDAH. Os achados mais recentes e contundentes são oriundos de centros de pesquisa como o National Institute of Mental Health dos EUA impossibilitados de qualquer contato com a indústria farmacêutica.  O fato de não termos uma alteração cerebral que seja “marca registrada” do TDAH não invalida nem a sua base neurobiológica, muito menos a sua existência. Se fosse assim, não existiria a Esquizofrenia,  o Autismo, a Depressão, o Transtorno de Humor Bipolar entre outros, já que nenhum desses
têm uma alteração que seja “marca registrada” da doença. 

Em todos os âmbitos da nossa vida, todas as informações que nos chegam devem ser sempre pesquisadas e refletidas com muito cuidado. Hoje em dia, os meios de divulgação de informações são abrangentes e democráticos, porém poucos divulgadores se preocupam em comprovar a veracidade das informações que transmitem. Com isso, o leitor fica suscetível ao erro de opinião e acaba se transformando em um multiplicador de ideias equivocadas. 

Neste caso, os médicos Mattos e Rohde nos orientam a acessar fontes realmente seguras e científicas sobre o TDAH (por exemplo: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed) antes de formarmos uma opinião sobre o assunto:  "No nosso caso, a evidência científica é implacável: o TDAH é um dos transtornos mais bem estudados da medicina e com mais evidências científicas que a maioria dos demais transtornos mentais." 

Arnete de Almeida Faria



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