quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O PRIMEIRO DIAGNÓSTICO A GENTE NUNCA ESQUECE...

O primeiro contato com o termo TDAH é geralmente difícil e indica alguma falta de cuidado e preparo tanto da parte de quem fala quanto da de quem ouve. É sempre um grande susto!
Comigo não foi diferente em 2001...
Eu não estava satisfeita com o processo de alfabetização das minhas filhas em uma escola de linha natural e construtivista. Apesar de a metodologia ser muito bem utilizada, as professoras e eu não conseguíamos ver qualquer avanço e as meninas continuavam sendo prejudicadas pela agitação e a dispersão, que até então era entendida como característica da idade entre 6 e 7 anos. Porém, preocupava-me a passagem para a 1a. série naquelas condições.
Como possibilidade de solução, visitei uma escola tradicional muito bem conceituada na cidade do Rio de Janeiro. A primeira visita foi formal, a coordenadora do ensino fundamental me mostrou o espaço físico, conversou sobre horários, uniforme e preços e no final me perguntou por que eu queria mudar minhas filhas de escola. Contei-lhe que as meninas eram muito agitadas e que me preocupava o baixo rendimento delas, pois como educadora valorizo uma boa alfabetização.
A princípio não haveria nenhum problema para matriculá-las e seria interessante que elas conhecessem a escola. Marcamos outra visita na semana seguinte. Chegado o dia, fomos levados pela coordenadora a uma sala cheia de brinquedos, livros, papéis para desenhar. Naquele paraíso minhas filhas quase viraram a sala de cabeça para baixo. Elas haviam mexido em tudo o que encontraram pela frente, apesar dos meus duros olhares e advertências. 
Depois de observar atentamente o comportamento das meninas, a coordenadora me disse claramente que elas não poderiam ficar na escola por causa do comportamento muito inadequado. Mais uma vez sofríamos esse tipo de preconceito e o que fazer nesse caso? Invocar nossos direitos? Forçar uma aceitação? Penso que o que quer que façamos precisa ser muito bem avaliado.
Ao perceber minha indignação ela me disse que havia acabado de assistir a um evento sobre educação e saúde. Lá ela havia conhecido um médico neuropsiquiatra, dr. Fábio Barbirato, que tinha falado sobre o DDA (Déficit de Atenção, nomenclatura utilizada na época). Se eu estivesse interessada em tirar dúvidas deveria procurá-lo na Santa Casa de Misericórdia. Saí dali tonta. Eu simplesmente não sabia o que pensar. Neuropsiquiatria????
Levei dias até pegar o telefone para procurar o dr. Fábio e como a Santa Casa estava em recesso, decidi vê-lo o mais rápido possível em seu consultório. 
A primeira consulta sempre é embaraçosa, os pais querem contar toda a história da criança, mas a ansiedade atrapalha. Por causa da angústia a fala se parece um quebra-cabeça e o médico tem que montar a história.
O jovem dr. Fábio, muito empático, estava acostumado a ouvir relatos  semelhantes e nos fez perguntas específicas em sua avaliação clínica. Em seguida, ele encaminhou minhas filhas para uma avaliação neuropsicológica e nos entregou os questionários para pais e para a escola. 
Na consulta seguinte, com a avaliação e os questionários em mãos ele definiu o diagnóstico. Era hora de começarmos o tratamento eficaz e eu, mãe ansiosa, precisava de mais informações sobre o transtorno. Sensível à minha necessidade, o dr. Fábio me ofereceu vários textos sobre o assunto para que eu os estudasse e participasse ativamente do processo, possibilitando que eu me transformasse em "co-terapeuta" das minhas meninas. 


Arnete de Almeida Faria           

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O Processo Diagnóstico do TDAH em crianças



Diagnosticar uma criança como portadora de TDAH não é tarefa fácil, pois o diagnóstico é fundamentalmente clínico. Além do número de sintomas apresentados por mais de seis meses, o clínico deve considerar a história de vida da criança e o comprometimento resultante de tais sintomas.
Em geral, o diagnóstico deve ser realizado por médico em equipe interdisciplinar composta por psiquiatra/neuropsiquiatra/, pediatra, psicólogo, pedagogo, psicopedagogo em minuciosa avaliação clínica que inclui relatórios constando observações de pais, cuidadores e professores sobre o comportamento da criança.  
A desatenção, a hiperatividade e a impulsividade como sintomas isolados podem ser decorrentes de vários problemas como por exemplo dificuldade na relação com os pais, colegas e amigos; sistemas educacionais inadequados; alterações sensoriais e também podem estar associados a outros transtornos comuns na infância e na adolescência. 
O Manual de Estatística e Diagnóstico (atualmente DSM-IV), publicado pela Associação Americana de Psiquiatria, é um sistema classificatório largamente usado porque descreve o TDAH segundo três tipos, cada qual com uma predominância de um ou outro padrão. São eles: tipo predominante desatento, tipo predominantemente hiperativo/impulsivo e tipo combinado.
No tipo desatento, popularmente conhecido como aquele que vive "no mundo da lua", observa-se com frequência a falta de atenção a detalhes e a criança sempre comete erros por descuido; dificuldade para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas distraindo-se com qualquer estímulo; parece não escutar quando lhe dirigem a palavra como se não ouvissem bem; dificuldade de organizar atividades, seguir instruções e terminar deveres e tarefas; recusa de envolver-se em tarefas que exigem esforço mental constante; costuma perder objetos e brinquedos e, principal queixa de pais e professores, parece esquecer de tudo o que escutou alguns minutos depois de receber a informação. 
No tipo predominantemente hiperativo/impulsivo, conhecido como aquele que tem um "bicho carpinteiro", observa-se com frequência agitação de pés e mãos, movimentação constante na cadeira e dificuldade de permanecer sentado por mais de uns minutos; corre e escala tudo o que vê pela frente; fala demais e muito rápido; tem dificuldade para brincar ou se concentrar em atividades; não aguarda a vez na fila e nem na conversa, intrometendo-se assim nos assuntos alheios.
O tipo combinado, como o próprio nome indica, é uma combinação dos sintomas dos dois tipos anteriores.
Em qualquer dos casos, esses indivíduos apresentam dificuldades para se organizarem e planejarem suas atividades e tarefas, causando a impressão de que seu desempenho está sempre abaixo do esperado para sua inteligência.
Para cada tipo ressaltam-se comprometimentos específicos. Os do tipo desatento são mais retraídos e possuem maior prejuízo escolar; os hiperativos/impulsivos tendem a ser mais agressivos e com isso geram impopularidade e rejeição pelos colegas; os do tipo combinado apresentam maior comprometimento no funcionamento global.
Os sintomas do TDAH podem se manifestar desde o berço com sono agitado, choro fácil, intensa atividade motora, excessiva irritação em qualquer ambiente, causando assim preocupação dos pais e prejuízo significativo no desenvolvimento da criança. 
É importante ressaltar que sempre haverá algum grau de desatenção, hiperatividade e impulsividade em todo portador de TDAH.
O TDAH pode causar no indivíduo um impacto na funcionalidade do planejamento: os sintomas atrapalham o desempenho de atividades resultando em desvantagens educacional e profissional, o que causará prejuízos importantes na vida da pessoa.
 

http://www.tdah.org.br/quadro01.php