terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Depoimento sobre a falta de diagnóstico



Alguns especialistas e médicos têm contestado a validade do diagnóstico do TDAH. Parecem recear que a criança seja rotulada como "aquele hiperativo" e/ou passe ajustificar seus atos pelo transtorno.
Acredito que o diagnóstico correto e criterioso é importante e necessário para que todos os envolvidos com a criança possam compreender a tríade clássica do TDAH: hiperatividade, impulsividade e desatenção. A partir daí, podem começar a pensar na intervenção o mais precoce possível. 
Sofri muito com o desconhecimento de pediatras sobre o TDAH. Em geral, após ouvirem meu relato sobre o comportamento inexplicavelmente difícil de minhas filhas, se limitavam a dizer ironicamente:
"- Ah, mãe, essa agitação toda indica que elas têm muita saúde! É melhor ter crianças assim muito levadas do que entrevadas na cama..."
Insatisfeita com a "explicação", eu marcava consulta com outro pediatra, e foram tantos entre alopatas e homeopatas... Todos diziam o mesmo e finalizavam a consulta com uma afirmação que considero covarde e injusta:
"- Se para cuidar de uma criança já é muito difícil, imagina cuidar de duas!!!  Você não está dando conta das meninas e por isso põe a culpa nelas. Vou prescrever um leite em pó para elas para facilitar um pouco. Você precisa de uma boa babá para ajudar."
Percebi que ser mãe de gêmeas passou a ser a panacéia dos pediatras que não sabiam o que dizer ao ouvir minhas queixas. Eu realmente precisava de ajuda, mas não de pessoas para cuidar das minhas filhas e sim de alguém para me auxiliar a entender o que estava acontecendo com as meninas.
Vaguei de consultório em consultório durante anos. Uns diziam que era problemas no ouvido das crianças e eu corria para o otorrinolaringologista, outros afirmavam que era o intestino e eu marcava consulta com o gastroenterologista, depois sugeriam que era alergia e eu telefonava para o alergista...
Anos se passaram sem que os sinais da hiperatividade fossem realmente observados e analisados pelos médicos consultados. Anos se passaram sem que eu tivesse um mínimo de orientação de como lidar com aquela situação. Esses anos marcaram em mim um profundo sentimento de culpa: eu não tinha competência para criar minhas filhas. Vencida, procurei uma psicóloga; afinal já estavam me convencendo de que eu era a raíz de todos os problemas... Começava nesse momento uma nova fase na minha vida que me trouxe muitos frutos. 

Arnete de Almeida

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