Quem não se comunica se trumbica!
A
comunicação em famílias com TDAH.
- Parte 1 -
Não há pai nem mãe que aguentem tal pressão!!
ALTERAÇÕES ASSOCIADAS AO TDAH
Então, o que fazer, neste caso?
Não há resposta
definitiva ou única para essa pergunta, porém, cabe lembrar a complexidade de
diagnosticar e tratar o TDAH não somente pelos sintomas primários de desatenção
ou hiperatividade, mas, sobretudo, pela alta frequência de comorbidades psiquiátricas apresentadas pelos pacientes.[i]
E o que são essas tais comorbidades? São outros transtornos
psiquiátricos associados ao TDAH. Estudos clínicos sobre o TDAH indicam que
entre 50% a 80% dos casos apresentam alguma comorbidade, sendo a mais frequente
o Transtorno Desafiador Opositivo (TDO) que se caracteriza por um persistente
comportamento negativista, hostil, desafiador, desobediente observado em
crianças de idade escolar, principalmente nas interações com adultos e figuras de autoridade.
É importante lembrar que quando é temporário, o comportamento opositivo
faz parte do desenvolvimento normal da criança e até aumenta na
adolescência. O processo de adolescer (entrar na fase da adolescência) é
marcado pela finalização da fase infantil e pela busca da conquista da
independência e da autonomia, ficando muitos dos valores da família excluídos
do processo. Nesse momento, o jovem fica mais confuso com os novos papéis que
lhe imputam e rebelde diante das figuras de autoridade, ele questiona e
contesta as regras e os limites em busca da própria identidade, e a comunicação
entre os pais e filhos pode ficar bem difícil.
No entanto, com o tempo, essa rebeldia típica da idade passa
e é esse dado que diferencia a crise da adolescência do Transtorno Desafiador Opositivo, que é
persistente, causa prejuízos importantes na vida escolar, social e familiar, e
deve ser diagnosticado por médico.
FORMAS DE COMUNICAÇÃO EM FAMÍLIA
Estudos afirmam que há
três formas de comunicação parental:
1)
Comunicação aberta, onde todos se sentem à
vontade para manifestar seus sentimentos e questionamentos, visando ao
compartilhamento e orientação de conduta;
2)
Comunicação superficial, onde os jovens não confiam na receptividade dos
pais que se mostram resistentes à chegada da adolescência de seus filhos. Esses pais constantemente exigem provas da responsabilidade do filho, porém,
não estão abertos a um diálogo sincero de modo a orientar o jovem em suas
demandas e aceitar suas limitações;
3)
Comunicação fechada que é marcada pelo peso da
autoridade e a ameaça dos pais.
Nas duas últimas formas
de comunicação, predominam os assuntos cotidianos sem espaço para os sentimentos dos jovens. Deve-se acrescentar que pesquisas indicam que a
dificuldade de comunicação é bem maior
com os filhos do que com as filhas.
Todas essas informações
são importantes e compreensíveis quando usamos a lógica racional,
entretanto, no cotidiano familiar e emocional elas desaparecem e dão lugar a um
relacionamento estressante em decorrência de uma comunicação problemática,
marcada por irritação, gritos, afrontas, castigos, ameaças.
Creio que a primeira
medida é considerar a possibilidade de que os tradicionais padrões de
comportamento e as clássicas medidas disciplinares podem não funcionar com seu
filho. Pessoas com o diagnóstico de TDAH, em geral, se
sentem muito estimuladas num ambiente de confrontos e conflitos, incentivando as
discussões acaloradas, os enfrentamentos violentos, os gritos, podendo chegar até à
violência física. Assim, é fundamental que os pais façam uma sincera
avaliação de seus padrões e modelos de comportamento e se abram para novas
reflexões e alternativas, lembrando-se sempre de entender as características do filho e
jamais compará-lo com os outros.
No relacionamento
familiar, penso que o principal é:
Ø
Conhecer honestamente seu filho;
Ø
Não esperar dele o que ele não pode oferecer por
causa dos sintomas principais do TDAH; Ø Ouvi-lo sempre com muita atenção;
Ø Proporcionar ocasiões nas quais ele se exponha sem medo;
Ø Ter sensibilidade para perceber o momento adequado para que ele converse com você;
Ø Não repreendê-lo impulsivamente quando ele relata alguma debilidade ou conta algo inesperado;
Ø Criar um clima de confiança e apoio;
Ø Respeitar os momentos de silêncio do seu filho.
Podemos pensar que nossos filhos nos contam
tudo, mas temos que saber que não o fazem, pois eles buscam preservar a própria
intimidade, o que faz parte do processo de independização.
A ARTE DA NEGOCIAÇÃO
Com respeito à comunicação, um dos recursos que oferece melhor resultado é a negociação, que ajuda a criança a ter responsabilidades e entender que o mundo funciona à base de trocas. A negociação possibilita à criança abandonar sua posição infantil em que recebe imediatamente tudo o que deseja, e a preparar-se para tolerar as frustrações tão comuns no mundo adulto. Nesse momento, a criança começa a dar valor e a ter necessidade de corresponder aos benefícios dados pelos pais e pela sociedade.
No entanto, negociar não é tarefa fácil!! Principalmente em família, quando todos estão habituados a uma linguagem de
gritos, ameaças e castigos fica mais trabalhoso promover uma mudança, mas não é
impossível.
No próximo texto,
escreverei sobre a Arte da Negociação, oferecendo orientações que podem ajudar a
melhorar o relacionamento com seu filho.
Aguardem!
Arnete de Almeida Faria
Fonoaudióloga
Rio de Janeiro
A reprodução deste texto é permitida com a condição de que a fonte seja citada.
[i] Dificuldades no
diagnóstico de TDAH em crianças. Isabella
G. S. de Souza, Maria Antônia Serra-Pinheiro, Didia Fortes, Camilla Pinna. J. Bras. Psiquiatr.
56, supl 1; 14-18, 2007