Quem não se comunica, se
trumbica!!
A Arte da Conversação
- Parte 2 -
São muitos os
estudos nas mais diversas áreas do saber que tratam da importância da comunicação
humana, a mais complexa entre os seres vivos.
A conversação
é uma atividade colaborativa, uma forma de interação social e cognitiva com objetivos e finalidades a serem alcançados. Por isso, a conversação é
argumentativa, pois pela conversa pretendemos:
- atuar sobre o outro,
- convencer o outro,
- construir e
transmitir conhecimento,
- modificar o
comportamento do outro.
Para
interagirmos por meio da conversação, é preciso que tenhamos alguns elementos
em comum: a língua, a cultura, o interesse,
o contexto, entre outros. Dissemos acima que a conversação é uma atividade
social e cognitiva, de aí a importância da compatibilidade de alguns mecanismos
como a percepção, a atenção e a memória.
Imaginem
que marquei um almoço para conversar com alguém. Falamos a mesma língua, o
português, e temos um assunto do nosso interesse para discutir. Até aí, tudo
bem. Escolhemos a mesa, nos sentamos,
pedimos água mineral e começamos a nossa tão esperada conversa. No início tudo
vai muito bem, porém, com o desenvolver do tema, observo uma confusão de
ideias, meu interlocutor parece ter dificuldade de controlar o próprio corpo na
cadeira, levanta-se várias vezes para fazer algo importante, mexe no celular
constantemente, muda de assunto sem me avisar,com frequência chama o garçom para fazer perguntas, enfim,
tenho a sensação de estar vivendo um caos! Tudo o que planejei para aquele almoço com aquela
pessoa vai por água abaixo. Muito se falou, mas nada se disse. Resultado: uma
tremenda frustração!
Ora, conversar
com alguém que não controla bem sua atenção - e consequentemente sua memória-, é
impulsivo e tem dificuldade de manter-se parado na cadeira nos dá a sensação de
ter entrado numa guerra sem ter sido avisado, não é mesmo?
Quem convive com pessoas
com TDAH sente-se sempre como um desavisado numa guerra. Desse modo, é
importante aprendermos que a arte da conversação tem algumas regras que
devem ser cumpridas. A seguir apresentamos sugestões para hábitos positivos de
comunicação pela conversação:
1º) Respeite os
turnos de fala. Em nossa sociedade é muito comum todo mundo falar ao mesmo
tempo, porém, quando um dos falantes tem TDAH esse desrespeito é muito mais
intenso, causando um colapso na
comunicação. Devemos nos lembrar de que no TDAH a impulsividade sempre se impõe
nas relações sociais, fazendo com que a pessoa opine ou responda perguntas antes
de elas serem concluídas, interrompendo frequentemente os outros por não
conseguir aguardar sua vez de falar. Procure modular com: “Espere sua vez”, “Ainda
não terminei de falar”. Alterne com pequenos sinais combinados, tais como tocar-lhe
levemente o braço ou fazer o sinal de “Pare!”.
2º) Contato visual
sempre! Dê o exemplo e esteja inteiro em tudo o que você faz. Ofereça toda
sua atenção à pessoa com quem você conversa: distrair-se ofende o interlocutor.
Intercale sua fala com perguntas sobre o que você disse ao seu interlocutor com
TDAH, assim você poderá comprovar se ele entendeu a importância de estar focado.
3º) Não seja
imediatamente reativo ao ser atacado: ouça cuidadosamente, avalie o que
você ouviu e, então, discorde calmamente, usando bons argumentos. E se você não
encontrar argumentos bons o suficiente, expresse seu sentimento e informe que
em outra ocasião você voltará a conversar sobre o assunto. Não permita o
surgimento do famoso “bate-boca”, que será estimulado pela pessoa com TDAH!
4º) Não tente
adivinhar o que o outro pensa. Nesse caso, as atividades de adivinhação
sempre são fracassadas. Então, pergunte!
5º) Sempre comece a conversa de um modo amistoso. Não
critique o tempo todo, comece apontando os aspectos positivos para depois
apontar os negativos. Não se prenda a todos os erros, pois ninguém é perfeito;
ignore os pequenos defeitos. Mantenha o foco na questão que é realmente
imprescindível discutir.
6º) Discuta um
assunto de cada vez e não permita o desvio do tema da conversa. Uma vez
decidido o assunto a ser discutido, lute para levá-lo até o fim, pois só assim
se poderá conseguir algum benefício. Isso é especialmente importante para a pessoa
com TDAH que frequentemente tem dificuldade para se concentrar. Uma boa dica é
variar a modulação da voz e o gestual do corpo, ser objetivo, direto e breve na
fala, usando frases mais curtas. Se você se prolongar muito numa conversa -
tipo sermão - saiba que já na quinta palavra seu interlocutor não o estará mais
escutando.
7º) Observe o momento
adequado para finalizar a conversa ou para mudar o assunto. Para isso, dê
pistas: “mudando de assunto..., e por falar nisso..., antes que eu me
esqueça...” Não permita saltos de um assunto a outro fazendo da conversa uma
salada mista! A pessoa com TDAH adora essa confusão porque ela tende a falar
muito e assim ela foge do esforço intelectual de manter-se no mesmo assunto.
8º) Mantenha a mente
aberta para diferentes pontos de vista e não tire conclusões precipitadas. Por
mais confuso que pareça o discurso de uma pessoa com TDAH, esteja certo que
sempre surgem ideias e perspectivas muito interessantes, com muito potencial de
contribuição.
9º) Reconheça as próprias falhas nas suas ações e na sua
argumentação. Não seja o dono da verdade nem o Sr. Perfeição. Em geral, a pessoa com TDAH tem sua
autoestima baixa, por isso quanto mais nos colocamos como perfeitos e superiores,
mais distante ela se sentirá do ideal.
10º) Questione e
discuta a ação (o problema), não o sujeito (o autor)
Arnete de Almeida Faria
Fonoaudióloga
Rio de Janeiro
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