Após receber o diagnóstico de TDAH para minhas filhas, foi iniciada a terapia interdisciplinar: acompanhamento médico e terapia psicológica na linha da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) para as meninas, e orientação a pais e à escola, feita pela psicóloga. Durante o processo terapêutico, deparei-me com várias questões difíceis, entre elas a dificuldade de lidar com a frustração e com as adversidades.
Eu andava com aquela nuvenzinha preta em cima da minha cabeça, meio pessimista, tomada por pensamentos invasivos, com pouca fé no futuro, me sentindo muito triste e sozinha.
Nesse momento, fui apresentada à Resiliência, termo muito utilizado na Física e na Engenharia, porém adotado pela Psicologia, Educação, Sociologia.
No dicionário do Houaiss, resiliência é definida como:
- propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica;
- capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças.
Tomado pela Psicologia para substituir os termos invencibilidade e invulnerabilidade utilizados até então, a resiliência passou a ser definida como:
- a capacidade do ser humano para lidar com as adversidades da vida, superá-las e ser transformado por elas;
- conjunto de processos sociais e intrapsíquicos que possibilitam ter uma vida sadia num ambiente adverso.
A resiliência é uma imunidade psicológica, pode ser inata ou desenvolvida no ser humano e varia de acordo com as circunstâncias, dessa forma, a resiliência deve ser fomentada e promovida, caso contrário, diante de fatores de risco, o indivíduo pode desenvolver uma psicopatologia.
Os fatores de risco, entendidos como qualquer característica ou qualidade da pessoa que vem unido a uma elevada probabilidade de prejuízo à saúde, devem ser combatidos pelos fatores protetores (competência social, temperamento fácil, inteligência, autonomia, auto-estima etc) que atuam como escudo e favorece um indivíduo a reduzir efeitos ou circunstâncias desfavoráveis.
Certas características da pessoa possuem uma associação positiva com a possibilidade de enfrentar fatores de risco e de aproveitar os fatores protetores, sendo assim resiliente. Algumas dessas características são precoces na criança, tais como: autonomia, comunicação fácil, empatia, competência cognitiva e em resolver problemas, controle de impulsos, capacidade de atenção e concentração. Devemos lembrar que as últimas 3 características são, em geral, disfuncionais nos portadores de TDAH, fazendo-se necessário que essas pessoas aprendam a desenvolver a resiliência, pois se as demais qualidades forem corretamente articuladas essas pessoas poderão usufruir dos benefícios resiliência.
A resiliência está diretamente relacionada com o vínculo afetivo de cada dinâmica familiar ou social, composta por pessoas que nos fazem sentir queridas, úteis e importantes. Segundo GROTBERG (1995), os atributos considerados como fontes de resiliência podem ser verbalizados em 4 condições:
1) EU TENHO:
-pessoas ao meu redor nas quais eu confio;
-pessoas que me mostram o que é certo e me ensinam a fazer coisas para que eu tenha autonomia;
- pessoas que me ajudam quando necessito.
2) EU SOU:
- uma pessoa amada e querida pelos outros;
- uma pessoa capaz de fazer o bem;
- uma pessoa responsável e respeitada;
- uma pessoa que confia que as coisas vão dar certo.
3) EU ESTOU:
- certo de que tudo vai sair bem;- rodeado de amigos e colegas que me apreciam;
- disposto a me responsabilizar pelos meus atos;
- triste, mas com a certeza de encontrar apoio.
4) EU POSSO:
- contar para os outros sobre assuntos e dificuldades que não entendo e me assustam;
- encontrar caminhos para resolver os problemas que surgem;
- me controlar e esperar o momento certo de falar e/ou agir;
- encontrar alguém que me ajude quando eu preciso.
A pessoa resiliente tem forte senso de identidade, auto-estima positiva, independência, autocontrole, confiança no futuro, capacidade de comunicação e de demonstrar habilidades sociais. É uma pessoa otimista, persistente e esforçada, capaz de pensar de forma crítica e descobrir soluções para os problemas que se apresentam, procurando adaptação porque é flexível e quando as experiências são muito negativas, se engaja numa distância adaptativa da situação para buscar ajuda.
A resiliência é contingente, imprevisível e, sobretudo, dinâmica. Na nossa convivência familiar, nesse processo de descobrir e aprender a lidar com o TDAH, vimos aprendendo a ser pessoas resilientes, flexíveis como o bambu que enverga mas não quebra!!
E você? É uma pessoa resiliente?
Pense nisso!
Arnete de Almeida Faria